Nas vizinhanças da Igreja de Santa Cecília muita coisa pode acontecer. O fervilhar dos bares, o trânsito da cidade sempre congestionado, ter tudo perto e a facilidade e estrutura de um bairro moderno, mas, ao mesmo tempo, decadente. Estar perto de tudo, do agito e da tranquilidade. Afinal, Santa Cecília é o Centro da cidade ou apenas um bairro? Essa não é uma questão de fácil resposta, pois é positiva para ambos os lados.
O bairro de Santa Cecília fica administrativamente no Centro, mas entendemos, aqui no portal, como zona oeste. Está perto de Higienópolis e da Luz, tanto que se confunde com os dois. Mas é um bairro charmoso e tradicional, tanto que se desenvolveu a partir da igreja, como muitas cidades brasileiras e bairros da capital. Morar nele faz com que o carro seja item supérfluo, dispensável, pois tudo está à mão. Comércio, bancos, cinemas, mercados, bares, restaurantes, hospitais, escolas, universidades, museus, feira noturna, transporte público para todas as direções, prédios comerciais e residenciais. Enfim, tudo.
O bairro, no passado, era de moradores ricos, muitos que vinham ou foram até Higienópolis. Tanto que os casarões convivem perfeitamente com os prédios modernos. Muitos desses casarões já fazem parte da história da cidade e foram tombados, outros tantos estão deteriorados. Também não se pode "tapar o sol com a peneira", pois o bairro tem alto índice de criminalidade e prostituição, sendo reduto de travestis e michês. Até em razão disso, não é muito valorizado.
Miscigenação é um dos sinônimos do bairro. Outro é compreensão. No bairro convivem desde moradores de rua até madames, além das mais variadas religiões. E quem convive com isso ama essa mistura boa.
O bairro foi um dos primeiros loteamentos de alto padrão da cidade, que teve nos antigos barões, fazendeiros do café, seus primeiros moradores. Daí, o grande número de casarões e prédios antigos, como a própria Santa Casa de Misericórdia. A localização, desde aquela época, segunda metade do século 19, e os espaçosos terrenos do loteamento eram ideais para esses primeiros moradores e suas mansões.
Também fazem parte dele a área denominada como Cracolândia e a Favela do Moinho, uma das poucas que ainda restam na região central da cidade. Além disso, seus prédios foram, aos poucos, decaindo e desvalorizando com o Minhocão, tornando-se produto muito interessante para quem quer comprar ou alugar.
Muitos desses antigos prédios passam por reforma e retrofit. Da mesma forma, há lançamentos interessantes, como prédios de
apartamentos pequenos de até 60 m2, de um ou dois quartos compactos. O mercado entende que era possível uma nova experiência: prédios sem garagem - como no Largo do Arouche ou mais próximo à Amaral Gurgel. O novo Plano Diretor da cidade também favorecerá o lançamento de empreendimentos com essas características.
Essas mudanças podem fazer com que a atratividade do bairro volte. Fenômeno que foi percebido a partir das décadas de 1970 e 1980, quando a classe média começou a sair da Santa Cecília. Motivou essa saída à falta de garagens e áreas de lazer dos prédios antigos, o que fez com que famílias de renda mais modesta passassem a ser maioria no bairro e começa a perceber novo perfil de moradores.
Em uma área de quase quatro quilômetros quadrados se espalham mais de 83 mil moradores, a 70ª maior população entre os bairros da capital. Seus moradores têm renda média de R$ 2,5 mil. Conta com IDH (Ìndice de Desenvolvimento Humano - medida comparativa usada para classificar os países pelo seu grau de "desenvolvimento humano") considerado muito elevado, de 0,930, o 17º da cidade.
Como dito, a reforma de prédios antigos tem sido um nicho interessante para o mercado e atração para novos moradores. A proximidade com Higienópolis e a infraestrutura têm feito com que a classe média comece a ver a Santa Cecília como opção. Além disso, há uma parte da Santa Cecília mais dirigida à classe media alta. Trata-se da região próxima à Alameda Barros, com alguns poucos casarões e edifícios residenciais de porte, muitos com garagem.
Recentemente, novo fenômeno fez com que Santa Cecília mostrasse um lado atraente ao mercado. Alguns de seus imóveis, bares e restaurantes transformaram-se em espaços da moda, atraindo jovens em busca de novidades, seja na gastronomia, seja nas artes. Segundo urbanistas, esses novos agentes de transformação trazem duas tendências ao bairro: a redescoberta do Centro, com imóveis a preços acessíveis e boa estrutura de transporte e de serviços e o maior uso de espaços públicos centrais. Tendência que deve ser ainda maior com a mudança na Legislação Municipal e o Novo Plano Diretor.
De acordo com dados do Portal ZO Imóvel, em vendas, Santa Cecília é o 14º bairro mais procurado na região e ocupa o 12º lugar em número de ofertas no site. Já em
locação, é o oitavo bairro em procura e 14º em ofertas. Segundo o Conselho Regional dos Corretores de Imóveis de São Paulo (Creci-SP), o bairro é considerado "Zona de Valor C", como Aeroporto, Água Branca, Butantã, Cambuci, Jardim Bonfiglioli, Mooca, Vila Leopoldina, Tatuapé, entre outros.
Texto elaborado por Marco Barone em novembro de 2016.